sexta-feira, 19 de março de 2010

Sem cem não há quem



Há algo de insofismavelmente belo e poético no elo que, hoje em dia, liga todos os benfiquistas, tenham eles frondosos bigodes ou ridículos cabelinhos à foda-se, sejam eles taxistas ou gestores de bancos (ainda) não nacionalizados, tenham eles silhuetas trabalhadas ou perímetros abdominais que não se medem (antes se estimam), sejam eles pródigos na contenção verbal ou exegetas praticantes dos vitupérios mais cabeludos.
O Benfica tem este dom de juntar as diferentes classes sociais e de as tornar uma massa homogénea e coesa. Tem o dom de exortar o nosso primitivismo e, concomitantemente, o nosso espírito de grupo e o nosso arreigo nacional. Tem o condão de nos pôr a falar com a televisão, de nos pôr a abanar a cabeça em locais públicos, de nos pôr a discorrer o calão feirante em cafés com crianças a menos de 5 metros.
Mas tem mais. O Benfica tem a feliz fortuna de ter pinceladas de pura magia dentro de momentos que são, já de si, únicos. Como teve, ontem, quando o Alan Kardec marcou aos 90min o golo que nos apurou para os quartos de final da Liga Europa e que foi festejado com o despir e total alheamento da camisola que envergava, com o seu arremesso despreocupado para a pista de tartan, sentenciando, em causa própria, o destino dos franceses com a arrogância tão típica destes, numa afirmação inequívoca (apesar de não verbalizada) de que o jogo termina quando o Benfica quer e não quando o árbitro apita.
E já lá vão 100 golos esta época...!

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