sexta-feira, 5 de março de 2010

Cão como (apenas alguns de) nós



Há qualquer coisa na nudez no feminino que nos suprime a concentração e nos faz perder o norte, tal qual uma bússola desmagnetizada. Se uma mulher ousa destapar uma alça dum soutien, da H&M que seja, a dissonância cognitiva com que nos desprendemos do que era, até esse preciso instante, principal para nos concentrarmos, de corpo e alma, no frugal acessório duma alça é a mais clamorosa percepção da nossa primitividade. Mas duma primitividade muito típica.
Não rara vez desejei que o meu imponderado tarolo pudesse ser domesticado, por forma a que eu melhor pudesse desempenhar as minhas funções, primeiro académicas (falhanço redondo!) e agora profissionais (que vão pelo mesmo caminho das primeiras). Nunca logrei consegui-lo. Mas os cães conseguem.
De facto, desde há muito que sou cônscio na inveja pelos nossos amigos de 4 patas. Ora, se atendermos à imagem apresentada, o canídeo que ali figura alheia-se inconscientemente (!) da nudez que se vai destapando ali mesmo ao lado. E fá-lo porque todos os seus sentidos convergem num objectivo único: o disco que caiu à piscina!
É flagrante o propósito singular do cão (i.e. abocanhar o disco que caiu à água) que, assim, resiste à tentação (acessória) da carne que, a menos de 4 metros, se dá a conhecer.
O cão da imagem dá-nos, assim, uma importante lição: ele sabe que a distracção e/ou contemplação e/ou galanteio do objecto que ali se desnuda, muito dificilmente lhe trará um retorno aos seus eventuais esforços. Por isso, ele não se açula na perseguição, ainda que meramente visual, do referido objecto. Antes prefere, conscientemente, o objecto que caiu à água.
A Mãe Natureza dotou os animais de um critério de eficiência inato. Este mesmo critério permite-lhes que se debrucem sobre o sexo oposto apenas de tempos a tempos, quando as fêmeas estão em período de ovulação (o vulgar, cio), deixando perceber, por imperativos físicos que não podem (mesmo) controlar, o desejo de interagir com o sexo oposto.
Assim sendo, apenas poderia haver uma altura em que o canídeo apontado na fotografia deixaria para trás o objectivo (singular) de brincar com o disco que caiu à água: se soubesse (reparem que não disse, propositadamente, percebesse) que o ser que se destapa a menos de 4 metros estaria para "ali" virada. Como não recebeu sinais inequívocos dessa "viragem para a brincadeira" (que não a brincadeira com o disco), concentra-se no que lhe interessa no curto prazo.
Caramba, eu também me quero concentrar no disco...!

3 comentários:

Gonçalo disse...

Muito bom, assino por baixo!!!
A concentração no disco é, de facto, mais glorificada e glorificante do que com os propósitos texteis vizinhos, só eventualmente estaria, numa qualquer hipótese remota, para aí virada!!!
E depois ainda nos chamam cães!!!
If they only knew...

Mustache Man disse...

Está bacano!

Cão Danado disse...

parece k remexeste no meu subconsciente e escreveste o k eu smp quis escrever, mas nunca tive tempo pra fazer. grande txt!