Excertos do livro "A chama imensa"

[I]. «Sim, Pedro Proença é um benfiquista, mas o Vale e Azevedo também é. Pedro Proença é um daqueles árbitros que anunciam em público que são adeptos do Benfica e depois passam a carreira a demonstrar a sua isenção prejudicando sistematicamente o clube. Para que Pedro Proença assinale um pénalti a favor do Benfica é preciso que haja um homicídio na área adversária. (...) Se alguma vez eu for, em tribunal, acusado de algum crime por uma testemunha ocular, espero sinceramente que essa testemunha seja o árbitro Pedro Proença. Aquilo que Pedro Proença presencia é sempre o rigoroso oposto daquilo que ele pensa que presenciou - o que é extremamente curioso. O mundo, que está direito para nós, apresenta-se-lhe do avesso.»
in Crónica "Pedro Proença é tão benfiquista como Vale e Azevedo", Fev.2009

[II].«Deu na SportTv um documentário sobre o Rui Costa. Estava-se a falar daquele Verão em que o Sporting comprou dois jogadores do Benfica cujo nome já esqueci e tentou ainda contratar o Rui Costa. No Benfica, o Maestro ganhava 25 mil contos por ano, e Sousa Cintra oferecia 120 mil contos. Como é óbvio, Rui Costa recusou. Mas o pai do Rui Costa também aparece a contar a história. Ponham-se no lugar do homem. O filho tinha 20 anos. Havia a hipótese de se transferir para o Sporting a ganhar quase cinco vezes mais do que ganhava no Benfica. Conseguiria amealhar num ano aquilo que muita gente não consegue numa vida inteira. O pai do Rui Costa disse: "Se ele fizesse isso, nunca mais comia a sopa cá em casa." Se isto não é motivo para a Águia de Ouro, vou ali e já venho. Mandasse eu em Portugal e este homem era ministro da Educação.»
in Crónica "Três recados para Quique Flores e um para o pai do Rui Costa", Fev.2008

[III]. «Rosebud é a última palavra que, no início de Citizen Kane, a personagem de Orson Wells profere antes de morrer. No final, o espectador verifica que Rosebud era a marca de um trenó que o milionário amara na infância. Eu tenho um palpite sobre a última palavra que direi antes de morrer. Quem estiver ao meu lado (se estiver alguém) talvez perceba mal o que direi e pense que me estou a despedir - o que não corresponde à verdade. É possível que, devido à minha condição de moribundo, velho e desdentado, a dicção esteja ligeiramente afectada, e isso faça com que a minha última palavra se pareça com "Tchau". Por isso, deixem-me aproveitar para esclarecer que, muito provavelmente, a palavra que eu estarei a dizer é "Shéu".»
in Crónica "Quero acabar entre papoilas", Março.2008

by Ricardo Araújo Pereira in "A Chama Imensa"