sexta-feira, 5 de junho de 2009

Suit up and play



Por estar na posse de alguma disponibilidade horária, e na falta de outro assunto de momento que não as eleições no Sporting CP (CP como os caminhos de ferro) – com um dos candidatos a querer contratar 2 jogadores que anunciaram o pendurar de botas na semana passada (Nedved e Juninho) e outro que acabou de renovar pelo clube que representa (Miccoli) e o outro, o da peculiar guedelha branquinha (que não o tio Vital, nem o avô Cantigas), a prometer coisas vagas e muito abstractas (quase imperceptíveis para os especialistas, mas claríssimas para os leigos, mormente aqueles que conduzem transportes colectivos) que não lhe possam ser cobradas no futuro –, vou falar de … [rufos de tambor] … advogados.
E pergunta o alcoviteiro leitor: Vais falar das disputas de poder na Ordem dos Advogados? No estilo populista (e desbocado) do actual Bastonário? Nos bastidores dos aparelhos partidários onde pululam interesses corporativistas da classe? Na degradação da outrora nobre imagem do advogado e na complacência com que a sociedade civil assiste ao seu desvanecimento?
E eu, na minha já conhecida e profana quietude, replico: nada disso, caralho! Vou-vos falar das estagiárias que todos os anos, lá para Setembro, entram nas sociedades de advogados com o intuito de nelas fazerem carreira… ou de nelas se realizarem profissionalmente… ou [colocar aqui a opção que mais vos aprouver].
Para começar, gostaria apenas de esclarecer que as sociedades de advogados estão para o tecido empresarial português como as escolas secundárias estão para o sistema educacional nacional: alguém lá tem que andar a fazer não se sabe muito bem o quê (e até são obrigatórias nos primeiros anos), mas ninguém lá quer os filhos (até porque há outras soluções).
De entre os espécimes que “frequentam” estas organizações, destaco, então, as recém-licenciadas em direito, aqui propriamente designadas por estagiárias. As estagiárias são, via de regra, miúdas ambiciosas, cheias de sonhos, ávidas por vingar na vida e com os índices de amor-próprio equiparáveis aos de uma tomada para o hemorróidal (aceitando-se a personificação destas para bem da comparação enunciada) ao primeiro revés. Ora, com todos estes ingredientes bem misturados, e acreditando nas luzídias promessas cochichadas por quem vai mandando aqui e ali, as estagiárias sujeitam-se ao destrate, à humilhação, à curvatura da coluna pelo supremo acto de subjugação e, em alguns casos, à sagração do oblato às mãos dos seus senhores (aqui propriamente designados de colegas).
O mundo é duro para (quase) todos, mas a rudeza das suas formas é mais sentido por alguns. Não tenho dúvidas que as estagiárias devem ser uma das classes que mais sofre com a impositiva dureza da vida. Com a resistência calejada que nelas se irrompe e nelas se instala. Com a solidez das agruras que jorram e se alastram. Com os sonhos amordaçados pelo desconforto da transposição consentida a medo numa qualquer superfície fria. E o dito nabo entre as pernas a fazer mossa nas moças...!

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