quinta-feira, 12 de abril de 2012

Import/Export # 114: João Gobern



"João Gobern, comentador de futebol, foi dispensado por ter recebido a notícia de um golo do Benfica com um festejo contido. A RTP dispensou-o por ter festejado; eu tê-lo-ia dispensado por ter festejado contidamente. Celebrar um golo de qualquer clube é um acto de liberdade. Celebrar um golo do Benfica é um acto de liberdade e de bom gosto. Quem contém a liberdade e o bom gosto merece castigo. (...)
[A verdade é que] não se admite que quem fala de futebol [em Portugal] goste de futebol. [Talvez por isso e pelo novo macartismo], a maioria dos comentadores de futebol que vemos na televisão não tem clube preferido. São apenas entusiastas assépticos das transições defensivas, burocratas da basculação, geómetras do duplo pivô. Não são exactamente seres humanos. São semideuses que não se deixam afligir pelas paixões da alma. (...)
Pessoalmente, nunca escondi que sou do Benfica, não por uma questão de honestidade mas de imodéstia: ser benfiquista é a minha melhor qualidade - se não for a única. E não tenho grandeza de carácter suficiente para a manter secreta. Um adepto do Vasco da Gama chamado Carlos Drummond de Andrade escreveu: «Para o diabo vá a razão quando o futebol invade o coração.»"

by Ricardo Araújo Pereira, in "Boca do Inferno" (revista Visão, 12.abril.2012)

1 comentário:

Gonçalo disse...

Isto dá para subscrever?!?!?