Cansado de ouvir as lamúrias e os queixumes de alguns dos viandantes que acorrem a este espaço de maledicência e, outrossim, de encriptado ensinamento nas mais úteis artes quotidianas, vi-me forçado a aceitar o repto lançado por um deles - o mais estúpido, diga-se (!) - e esplanar algumas das técnicas que os bandidos utilizam na nobre arte do saquete.
Antes de começar a leccionar sobre o tópico que dá título a este disparo, quero apenas largar um disclamer, porquanto esta ancestral arte resulta do apuramento de gerações de bandidos até aos moldes em que hoje vos chega e não é, ao contrário da mousse que é servida nos restaurantes em Aljustrel, instantânea, pelo que a vossa persistência, acutilância verbal, agilidade intelectual e, sobretudo, o vosso jogo de rins são fundamentais para o sucesso de tão valorável propósito científico.
Ora, indo directo ao assunto - que rodeios, adereços e bebidas com frutas são coisas da paneleiragem - posso, desde já, adiantar que a melhor forma (quiça a única) de sacar gajas (boas!) prende-se com a acção conjunta (e supostamente contraditória, pelo menos aos olhos dum leigo) das acções de (i) comunicar e (ii) ignorar. Sim, pueril leitor, é assim tão simples na teoria. Na prática, porém, não é bem assim, mas já lá chegamos.
As fêmeas são como peixinhos de aquário e correm (sempre!) atrás de objectos brilhantes. Isto, não sendo uma novidade, serve de base para preparar o que se dirá a seguir, assim numa espécie de refugado de sapiência mundana. Ora, como precisam de estímulos externos (e brilhantes) para se fixarem no que quer que seja, a melhor forma de uma miúda perceber a vossa presença é se vocês lograrem sobressair no meio da manada que, pungindo testosterona, também lhe quer castigar a espinha. E a melhor forma de o fazer é... ignorando-a. Sim, cambadinha de australopitecos, a distinção faz-se através duma actuação divergente do grupo*.
As fêmeas são como peixinhos de aquário e correm (sempre!) atrás de objectos brilhantes. Isto, não sendo uma novidade, serve de base para preparar o que se dirá a seguir, assim numa espécie de refugado de sapiência mundana. Ora, como precisam de estímulos externos (e brilhantes) para se fixarem no que quer que seja, a melhor forma de uma miúda perceber a vossa presença é se vocês lograrem sobressair no meio da manada que, pungindo testosterona, também lhe quer castigar a espinha. E a melhor forma de o fazer é... ignorando-a. Sim, cambadinha de australopitecos, a distinção faz-se através duma actuação divergente do grupo*.
Ora, divergir do grupo não é, nem pode ser, marginalizar o objecto que se pretende conquistar. Por conseguinte, o segundo passo no ataque à cueca alheia é muito importante (e, porventura, o mais dificil de pôr em prática, pelo menos na dose certa). O supradito passo passa (passe a redundância das palavras) por comunicar com a fêmea marcada para morrer nos vossos lençóis. Todavia, esta comunicação dever-se-á fazer com ligeireza, graça e secundarização (ou seja, ao mesmo tempo que se dá mais atenção a um amigo cavaqueiro e/ou a uma qualquer outra fêmea que circunde nas redondezas e seja, ou não, amiga do alvo a abater).
A arte de comunicar e ignorar não deve, ao contrário do que pensa uma larga maioria de encomiásticos parolos que por aí pululam, ser servida em doses iguais, num paralelismo com a célebre arte do dar e tirar na exacta medida - e que tão bons resultados dá com cães, diga-se em abono da verdade. Não, a arte de comunicar e ignorar deve ser feita como se faz o arroz: com duas doses de ignoração (o correspondente à água) para cada dose de comunicação (o correspondente ao arroz). Só assim o arroz fica malandro e, da mesma forma, só assim o engate resulta.
*Sobre o grupo, na sua concepção masculina e entesoada, um breve esclarecimento por parte do estupendo autor: o grupo, ao contrário do que pensa o virgem leitor que aqui vem espiolhar e tirar apontamentos, actua no sentido da sua própria auto-destruição. Sim, meus caros exconjurados, o interesse dum grupo de homens aquando da presença dum exemplar feminino capaz de lançar o turbilhão nas entrecalças, não é, jamais (!), garantir o sucesso a um dos seus elementos, mas antes, e em conjunto, garantir que as suas hipóteses fiquem, instantânea e colectivamente, hipotecadas com o referido exemplar. As razões para este tipo de comportamento associativo-destrutivo serão desenvolvidas noutro volume desta mirífica rubrica.