Telejornais e Mozart

Antes de mais, e em jeito de aviso, não quero que o empertigado leitor pense que eu, bandido mundano, m'estou para aqui (ou para qualquer lado) a armar em bom e/ou em intelectualóide de vão de escada. Nada disso, até porque isso nunca granjeou fêmeas (pelo menos depiladas) a ninguém.
O que aqui me traz, uma vez mais embuído dum espírito de acutilância, actualidade e actinismo social, é o embuste que são, hodiernamente, os denominados telejornais.
Quem me conhece, sabe bem que o único programa a que ainda dedico o meu parco tempo na televisão generalista portuguesa são (para além dos concursos apresentados pelo malato) os espaços noticiosos onde, assim duma forma resumida, um pivot (ou pivota) muito bem compostinho e maquilhado, numa posição de rigidez dorsal que, estou certo, faz furor junto das mães que sempre pediram aos filhos que pusessem as costas direitas quando estão à mesa, me lê os factos mais importantes do mundo e, outrossim, aqui do burgo onde habito.
Até aqui nada de novo, retorquirá o impaciente leitor, com a sua tendencial petulância. Calma, porra, que os meus disparos são como sopa de bébe e vão sempre passadinhos pela varinha para não engasgar o raciocínio de ninguém.
Ora, dizia eu, que o pivot tenha de ler as coisas num teleponto que lhe é oferecido pela redacção noticiosa ou lá como se chamam os bastidores onde pessoas estão à frente dum pc e jogam solitária e andam dum lado pró outro e assistem às mais recentes actualizações do blog duma tal de Jenna Jameson (em formato .jpg) é uma coisa, outra totalmente distinta é que esses mesmos pivots nos tentem impingir palermices como aquelas quando dizem, já quase no final do dito espaço noticioso, "Se fosse vivo, W. Amadeus Mozart faria hoje 254 anos".
Ora, alto e pára o baile!!!
Então mas alguém, no auge da sua hipotética credulidade, acredita que seria possível ao Sr. Mozart tocar as bodas de fígaro ou don giovanni, sentadinho num órgão Yamaha, com a bonita idade de 254 anos?! Mas será possível, para as mentes que se descobrem naqueles espaços a que se convencionou chamar redacção, que alguém pudesse ter sido levado pela má sorte antes de ter completado 254 anos?! Num atropelamento de carroça seguido de fuga, por exemplo...!?
Atentem que não estou contra as palermices editoriais que se fazem para encher chouriço, se bem que as não entenda, de afirmar, por exemplo, que se fosse vivo, Elvis Presley teria hoje 75 anos - até porque isso seria (moderadamente) possível. Agora, um Mozart com 254 anos!?!? Por favor, tenham respeito pelas pessoas que, mal ou bem, ainda vêem os telejornais à procura de notícias a sério. Anotem lá isto. A sério.