terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Import/Export # 166: Soares, a dondoca

«Tenho vários problemas com o soarismo, essa visão (errada) da história, mas acima de tudo tenho uma enorme antipatia por Mário Soares. Não, não é uma questão política. É uma reacção epidérmica. O perfil pessoal de Soares provoca-me um genuíno desconforto. Porquê? Porque não tenho saco para a snobeira que Mário Soares revela em cada gesto e em cada palavra, não tenho paciência para os ares de menino de Lisboa nascido em berço de oiro e em círculos políticos. As declarações que fez no dia da morte de Eusébio provam isso novamente. Repito: novamente. (...)

Mário Soares é tão queque como os Espírito Santos que brincam aos "pobrezinhos". Nas suas campanhas dos anos 70 e 80, Soares conseguiu esconder os tiques de superioridade com a falsa bonacheirice ("o bochechas"), com as palmadinhas, abracinhos e palavrinhas porreiras. Porém, quando lemos relatos e memórias do período, salta logo à vista o absurdo paternalismo de um homem que se julgava no direito natural de mandar em Portugal. Hoje em dia, sem a necessidade de contactar eleitoralmente com as massas, a snobeira de Soares tirou as luvas de pelúcia, está à vista de todos.

Eu respeito o papel de Soares em 75 e, acima de tudo, em 83-85, quando fez de Merkel. Mas não me peçam para gostar da personagem, porque não tenho de gostar, aliás, tenho o dever de não gostar da figura de Soares tendo em conta o seu comportamento de grã-fino. Escrevo isto sem grande prazer, porque os senadores deviam comportar-se como senadores, e não como dondocas.»

by Henrique Raposo in jornal Expresso

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