terça-feira, 20 de setembro de 2011
Import/Export # 83: Folhas de Relvas
"Quem lamenta que já não haja em Portugal políticos de grande estatura deve passar a dar mais atenção à figura de Miguel Relvas, ministro de todas as coisas visíveis e invisíveis. No governo que Miguel Relvas lidera não há nenhum elemento mais abnegado - nem sequer o seu vice-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. A característica mais admirável de Relvas é esta: embora possua uma aflitiva falta de talento para a oratória, dispõe-se a fazer intervenções públicas todos os dias. É um homem capaz de perorar canhestramente sobre qualquer assunto. Deem a Miguel Relvas um tema, por mais elementar que seja, e garanto que ele será capaz de produzir as páginas mais atamancadas e crípticas da história da política portuguesa.
Em política, a persuasão faz-se através da palavra. Cunhal era um grande orador, Soares era um grande orador, Sócrates tinha telepontos muito bons. O facto de Miguel Relvas ser incapaz de articular um sujeito com um predicado faz com que a sua proeminência na vida política seja razoavelmente misteriosa. Relvas é um ministro e um puzzle: é um político que não se consegue fazer entender, mas os eleitores parecem entendê-lo, ou não lhe teriam dado tanto poder. Os discursos de Miguel Relvas são uma espécie de teste de Rorschach político: uma pessoa ouve-o e tenta perceber com que é que aquela amálgama de palavras se parece. (...)"
by Ricardo Araújo Pereira in "A Boca do Inferno" (revista Visão), 15.set.2011
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