sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A génese do vocábulo encarecar


Muito boa gente me tem questionado – duas pessoas, para ser mais exacto – sobre a génese do neologismo encarecar, esse novo e resplandecente vocábulo sem o qual a língua portuguesa parecia, até há uma semana atrás, coxa. A sua origem, modesta como todas as origens que importam vender aos pobres de espírito, descobre-se numa das lacunas da língua de Camões no que a chacotear diz respeito. Sim, porque ninguém me convence que a corriqueira expressão “pó caralho”, ainda que nas suas mais evoluídas variantes “o caralho é que é” ou ainda “passa-te ao caralho”, não começa a apresentar sinais de cansaço e desadequação ultrajante. Quem não se recorda de pelo menos uma situação confrangedora em que, incitado por um qualquer vitupério dum qualquer dejecto de forma humana, o silêncio tenha, involuntariamente, imperado pela inexistência de um achincalhanço simultaneamente embaraçador e culturalmente evoluído. Ora, nesta era de caos financeiro e sexual, o vocábulo “encarecar” vem marcar uma posição de liderança na zombaria do dia-a-dia, pois representa não só a degradação físico-capilar, como a degeneração socio-pulhipiresca do homem/mulher comum. E não obstante o termo aceitar uma universalidade anti-sexista, nem por isso se descobre transsexuado. O dito vocábulo e/ou doesto serve assim, e não apenas, os géneros masculino, feminino, misto e animal. Assim sendo, e como conselho de alguém intelectualmente superior e estupidamente bem vestido em qualquer ocasião (ao qual terá de se excluir a última Moda Lisboa, única mancha num currículo imaculado), sempre que se depararem com uma daquelas pessoas e/ou coisas cujo coração seja mais negro que o olho do cu duma preta da Guiné Conacri, não olvidem da possibilidade de a apupar com um chorrilho de exprobações e insultos, nas quais deverá pontificar o termo encarecar, por forma a serem capazes de assuar todos os presentes no escárnio e maledicência do objecto da vossa ira reprovativa para que a mesma aprenda a lição e não mais se digne a vilipendiar-vos – quanto mais não seja com a sua inusitada presença físico-repulsiva. Agora ide, espalhai a palavra e não hesitais na hora de caluniar e descompor que vos não agrada!

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